Lost na Revista TIME

O site da revista Americana TIME, trouxe no último domingo uma matéria bem bacana sobre Lost cuja tradução você pode ler aqui no Dude!

Porque o futuro da televisão está em Lost
Como uma série estranha que deveria ser cancelada ajudou a tv a entrar na nova era da mídia.

Por James Poniewozik

Não há respostas simples quando se trata de Lost. Em nosso último contato com a estranha e viciante série sobre sobreviventes de um acidente aéreo em uma ilha deserta, começamos a descobrir que a ilha está ligada ao mundo exterior. Essa revelação embora pareça pequena, foi espetacular para os fãs. Destruiu algumas teorias, como a de que os personagens estavam mortos e no purgatório. Com a estréia da 3ª temporada, a pergunta na cabeça da maior parte da audiência é: veremos mais do mundo exterior no presente?

Sim, diz o produtor executivo Carlton Cuse, para ser interrompido por Damon Lindelof, também produtor executivo, que diz que ele não deveria usar o termo presente.

Cuse acrescenta: “O contexto de tempo é algo que você não pode tomar como certo ou garantido”.

A tv já viu várias séries com o apelo de Lost, mas suas histórias geralmente terminavam com “… e foram canceladas devido à grande diminuição de sua base de fãs entusiasmados.” A primeira série baseada em Star Trek e mesmo Twin Peaks foram de fenômenos a fumaça mais rápido que o tempo que você leva para perguntar: Quem matou Laura Palmer? Lost é diferente. Um grande hit comercial de massa que requer comprometimento de quem vê e o tem. Como Lost escapou do túmulo de séries cultuadas? Em parte porque se trata de algo genial na tv. Mas também, porque a tv mudou e porque Lost mudou a tv. Muitas das mudanças que ameaçavam o velho jeito de se fazer tv – o surgimento da internet, novas tecnologias, uma audiência fragmentada com novas opções de entretenimento – fizeram Lost ser um sucesso. Ela conseguiu seduzir o público da internet que supostamente não vê muita tv e foi beneficiada por tecnologias como o iTunes, os gravadores de dvd e os players caseiros que alguns temiam que desse fim à tv. Lost pegou os atributos que uma vez a teriam transformado em um cult falho – excentricidade e complexidade – e os usou para guiar o poder dos fãs obsessivos. Assim como na história contada em Lost, a história do sucesso da série tem design cuidadoso, ciência e um pouco de fé.

Primeiro a fé. Em 2004, a rede ABC era a 4ª em audiência. Uma série em produção naquele ano era baseada em uma idéia do executivo Lloyd Braun: uma ficção inspirada no reality show “Survivor”. A ABC passou o projeto para o produtor J.J. Abrams e seu parceiro Damon Lindelof, que elaboraram o conceito em torno de um grande mistério direcionado por personagens. O senso comum na tv até então, era o de que os telespectadores seriam ocupados demais para seguir tramas continuas. Séries com histórias individuais simples como CSI reinavam. “Adoraríamos ter uma CSI”, diz Stephen McPherson, então cabeça da Touchstone Television e agora presidente da ABC Entertainment. “Mas dadas as nossas chances, fez muito sentido tentar quebrar essa regra”. Abrams tinha um histórico de peso como produtor de ‘Alias’ fazendo um thriller com impacto emocional – embora ele diga que “era uma batalha contínua” fazer a rede apoiar a narrativa complexa da série.

Com Lost, ele e Lindelof escreveram uma série com uma mitologia estranha mas com bastante coração, humor e riqueza de personagens que tem apelo. Temos Jack (Matthew Fox), um médico com problemas mal resolvidos com o pai e Locke (Terry O’Quinn), um paraplégico milagrosamente curado na ilha. Temos Hurley (Jorge Garcia), um sujeito simpático que ganhou na loteria jogando os números 4, 8, 15 , 16, 23 e 42 que mais tarde descobrimos ter um significado quase místico. Há uma fugitiva (Evangeline Lilly), um esperto golpista (Josh Holloway), uma ex- estrela do rock com histórico de vício em heroína (Dominic Monaghan) e um ex-soldado iraquiano experiente com torturas (Naveen Andrews).

Deixei de fora o garoto estranho, o coreano com jeitão de gangster e muitos outros, mas você já entendeu. A ilha pode não ser o purgatório, mas metaforicamente ela é: quase todos os losties têm um passado com o qual precisam acertar contas, e suas histórias contadas através de flashbacks dão ao mistério, uma profundidade emocional. O resultado é um thriller pipoca que junta as vidas de vários personagens em uma história de interconexões, redenção e graça.

Lost se tornou um hit logo de cara, mas séries geralmente perdem audiência à medida que os fãs casuais pulam fora. E é aqui que a ciência aparece. O que os fanáticos por Lost tem que os amantes da tv antigamente não tinham era uma rede madura e de grande alcance na Internet. Os fãs fizeram blogs, sites de referências e podcasts. Eles assistiram, então debatiam e postavam interpretações e teorias (o monstro de fumaça é uma nuvem de nanorobôs controlada por um paranormal!). “Parte do prazer de ver essa série é falar sobre ela”, diz Nicholas Gatto, de 14 anos que coordena o blog abclost “Ela não termina nos créditos.”

O mistério de Lost – e as oportunidades que se abriram para análises cibernéticas – o transformaram em tv para a próxima geração da tv. Além de alimentar o interesse, a tecnologia afetou o tipo de narrativa que Lost pode ter. Em nível prático, gravadores de DVD, players de DVD e os downloads via iTunes significam que menos fãs vão abrir mão de acompanhar os episódios, o que permite aos escritores manter a série num tom complexo e desafiador. “Uma série contínua como Lost, teria vida difícil antes do iPod, do DVD e do vídeo streaming,” diz J.J. Abrams.

E essas tecnologias permitem aos produtores acrescentar níveis de detalhamento. Em um episódio da 2ª temporada, Eko (Adewale Akinnuoye-Agbaje), um ex-traficante nigeriano, tem uma epifania religiosa quando encontra o monstro de fumaça na floresta. Quem gravou a cena e a rodou em câmera lenta viu uma série de imagens na nuvem: o irmão morto de Eko, um homem que Eko matou, um crucifixo. Imagens que apareceram em frações de segundos e que um espectador casual não teria notado. De qualquer forma, isso funciona. Você pode sentar e curtir a história, ou pode fazer parte jogando-a, como se fosse um quebra-cabeça de aventura como Dungeons & Dragons ou Myst.

A imagem clássica do super fã de tv é aquela do obssessivo, com orelhas Vulcan estilo Star Trek, feito por Jon Lovitz satirizando William Shatner em um esquete clássico do Saturday Night Live. Hoje o amor à tv está mais abrangente. Quando Lost usou filmagens da Noruega para revelar o criador da Fundação Hanso – o sujeito aparentemente por trás de uma conspiração – os noruegueses ficaram malucos especulando sobre a conexão de sua terra natal com o mistério.

E os produtores estão atentos. Na temporada passada eles mataram uma segunda personagem em um episódio chave porque aquela que eles planejavam matar era tão impopular que eles se deram conta que só a saída dela não teria impacto. Outras vezes, eles despistaram os fãs. Para derrubar uma teoria popular – de que a série toda se passava em um sonho – eles fizeram um episódio em que uma alucinação diz a Hurley que tudo que ocorreu na ilha estava na cabeça dele e a partir daí refutaram a teoria. “Há um tipo de troca recíproca,” diz David Lavery, coordenador de assuntos relacionados à TV e Cinema na Universidade Brunel em Londres e co-autor do livro “Desvendando o Significado de Lost”. “Os fãs sabem mais sobre a série – exceto o que vai acontecer na próxima semana – do que as pessoas que a criam. Os mais fanáticos se sentem poderosos como nunca se sentiram antes”.

É claro, que esses fãs ainda representam a minoria, mas eles tem voz ativa. O crítico de cultura pop Steven Johnson, autor de “Tudo que é ruim é bom para você”, diz que os criadores da série “são dependentes do poder amplificador da base de fãs mais hardcore, que são 1% da audiência, e que divulgam algumas dessas pequenas descobertas bacanas para 10% da audiência. Esses são os grandes propagadores da série, os 10% que estão lá fora dizendo, Oh Deus, sou tão viciado nessa série. E eles ajudam a capturar os outros 90%, que é onde os super fãs se gratificam”. “Digamos que eu vá a um show de Bruce Springsteen e que ele toque por 4 horas em vez de 2”, diz Lindelof. “Por quê? O que ele ganha com isso? O preço do seu ingresso é exatamente o mesmo. Mas o que acontece é que você vai para o trabalho na manhã seguinte e diz, – eu simplesmente vi o melhor show da minha vida.”

E para o 1% os produtores e a ABC criaram o Lost Experience, um jogo online que explora a Dharma Initiative, o projeto secreto internacional que aparece na série. Por mais de 4 meses os jogadores caçaram pistas em sites, mensagens de voz por telefone e vídeo clipes online. O truque era dar informações que satisfariam os fãs mais hardcores mas que a audiência menos empolgada não precisaria. (Dentre as revelações: Dharma significa Department of Heuristics And Research on Material Applications. Seja lá o que for isso.)

A julgar pela maior parte da história da tv, chegar a ponto de fazer pessoas que já curtem uma série gostarem ainda mais dela, seria um desperdício. As redes de tv se pagavam com anúncios e propagandas. Mas hoje você pode transformar paixão em dinheiro. Fãs compram episódios que perderam no iTunes por $1,99. São mercado para um vídeo game e mini-episódios para celular. Compram os DVDs para pegar novos detalhes dos episódios que já viram. Esse mês trouxe a chegada da 2ª temporada em 1º lugar nas listas de mais vendidos em DVD. A 1ª temporada vendeu 1,2 milhões de cópias. As redes passam a levar isso em consideração quando planejam novas séries. “Eu não estou na sala quando a decisão coorporativa é tomada”, diz Abrams. “Mas a possibilidade de faturar de $50 a $ 100 milhões em vendas de DVD, não é algo a ser desperdiçado”.

Talvez o grande teste de como Lost mudou a tv será seu final. Os produtores dizem que querem dar um fim à história de forma natural mesmo que a série esteja no topo. Surpreendentemente, eles têm alguns fãs ao seu lado. “Eu ficaria feliz se ela durasse quatro, cinco anos e então terminasse”, diz Craig Hundley, moderador de dois sites fãs de Lost. E aqui de novo, a decisão é da ABC. Serão os criadores e fãs ou os executivos da rede que decidirão quando a série termina? TV ainda é um negócio. E como Carlton Cuse disse, com Lost, o contexto de tempo é algo que você não pode garantir.

Com reportagens de Jeanne McDowell de Los Angeles e Sean Scully/Philadelphia.
Tradução por Davi Garcia

Artigo anteriorMais Spoilers do E! Online
Próximo artigoMudança na ordem de exibição dos episódios

10 COMENTÁRIOS

  1. Por mim acabava nesse terceira temporada, mais pelo jeito nao vai mesmo ;/ podiam fazer alucinadamente essa terceira com muita surtacao e acabar nela mesmo. Enrrolar d+ estraga toda serie ;/

  2. Ah eu faço parte do time que acha que com 5 temporadas Lost pode contar muita história boa e terminar por cima efetivamente marcando seu nome na história da tv. E além do mais o fim na tv não significaria o fim da série necessariamente já que a internet e o Lost Experience estão aí para provar que há novos terrenos para serem explorados.

  3. Oi, pessoal! Li a matéria do dia 26.09 colocada no Dude, e fiquei pensando o quanto essa galera que produz Lost tem criatividade e talento, né? Ficamos todos nós presos às informações, trocando idéias, ansiosos, uma loucura! Tudo bem que não é a maioria das pessoas que acesso a spoiles e blogs, etc, mas mesmo o pessoal que só assiste na tv, também tá curioso pra recomeçar a série.
    Sou Jater, confesso, mas quero mais é que a série se desenrole de uma forma legal e coerente, pra entrar definitivamente pra história das séries de TV, porque é uma sacada bem legal a trama de Lost. Só espero que autores e produtores, não se percam no caminho e nem se deixem levar por pressões e ilusões financeiras, tentando agradar Fulano ou Beltrano, além da mídia, porque caso isso ocorra será uma pena…
    Quanto às discussões amorosas, galera, não tem filme, novela ou seriado que sobreviva sem amor, e outros sentimentos como ódio, inveja, etc. Concordo que os mistérios da série são interessantíssimos, mas se NÃO houvesse disputa amorosa, por liderança, vaidades, amizades e inimizades, não teria a menor graça! Isso tudo faz parte do ser humano e o público se identifica com o canalha ou com o mocinho, não tem jeito! E é através das pessoas e suas decisões ou omissões na ilha é que vamos descobrindo aos poucos quem são bons e quem são maus (se é q existe essa divisão) e onde irão chegar.

DEIXE UMA RESPOSTA

Envie seu comentário!
Escreva seu nome aqui