Na semana passada começamos a dividir com vocês matérias do site PopularMechanics.com que discutem aspectos científicos e/ou factuais vistos na série. Essa semana o tema foi a caixa-preta que o capitão Gault mostrou a Desmond e Sayid no episódio passado.
Por Erin Scottberg para o Popular Mechanics
Traduzido e adaptado por Davi Garcia
Durante o episódio “Ji Yeon” nós finalmente tivemos a revelação de que alguém que não é o Ben, que Charles Widmore é o homem que dá as ordens ao pessoal do cargueiro. Embora essa revelação não tenha sido muito surpreendente para muitos fãs, o fato de que Widmore atráves de “seus contatos,” tem a caixa-preta do vôo 815 sob sua posse é relativamente chocante já que o capitão Gault diz que Ben foi o responsável por armar o teatro com destroços do 815. Portanto por que Widmore quer capturar o Ben? E que trunfo a caixa-preta representa para ele? Será que aquele objeto revelará alguma coisa útil depois de meses perdida em contato com a água salgada? Enquanto não podemos responder a primeira pergunta, conversamos com James Cash, chefe da divisão de registros e gravações do Conselho Nacional de Segurança nos Transportes para obter algumas respostas para aquelas duas últimas perguntas.
Nos aviões mais recentes incluindo aquele que decolou em 2004, há dois componentes que pertencem à caixa-preta virtualmente resistente a acidentes: O gravador de voz do cockpit (CVR na sigla em inglês), que grava diálogos e barulhos do ambiente através de microfones instalados no cockpit, e o gravador de dados do vôo (FDR) que armazena dados como altitude, velocidade e direção do vento. Enquanto as caixas-pretas de aviões antigos armazenavam dados em fitas magnéticas (como naquelas cassetes), as de hoje gravam em discos rígidos, o que permite o FDR a acompanhar milhares de parâmetros e aumentar a duração do tempo que os CVRs podem gravar. Formalmente os CVRs foram feitos para gravar apenas os 15 ou 30 últimos minutos de som do cockpit, mas novos padrões da FAA (Administração Federal de Aviação) anunciados no dia 10 de março vão exigir que as 2 últimas horas estejam registradas (embora os aviões tenham até 2012 para se adequarem). As novas regulações também requerem que o CVR tenha uma fonte de energia reserva que garanta cerca de 9 a 11 minutos caso ocorra algum problema com o sistema elétrico. As circuntâncias do acidente dirão que parte da gravação será mais útil. “Se foi um problema do avião, a gravação daria uma boa idéia de como ele caiu. Se foi um erro da tripulação ou algum erro de procedimento, a gravação evidenciaria isso perfeitamente. Se o avião se choca em uma montanha você terá a gravação de um avião funcionando perfeitamente e que de repente para,” diz Cash. É nesse momento que o gravador de voz se torna mais importante. Sayid identificou a caixa como sendo apenas um gravador de dados de vôo (FDR), e se esse fosse o caso não haveria gravação do que aconteceu no cockpit, então se o acidente não fosse resultado de problema mecânico, não haveria informação que indicasse porque ele caiu. Mas de acordo com Cash, a maior parte das caixas-pretas atualmente e aquelas usadas em 2004 combinam os dois gravadores em uma unidade só.
Cash diz também que é absolutamente possível que a caixa-preta de um avião ainda estaria funcionando mesmo depois de quatro meses no fundo do oceano. Recentemente foi descoberta uma gravação que estava registrada em um dispositivo que mesmo depois de nove anos no fundo do mediterrâneo estava funcionando. “A água em geral não danifica a caixa-preta,”disse Cash. “É o oxigênio que as danifica uma vez que elas estão úmidas. Ele começa o processo de corrosão.” Quando uma caixa-preta é encontrada em um local de acidente, ela é transferida para um laboratório para que os dados sejam recuperado e copiados. Portanto embora saibamos que Widmore tem a caixa-preta, ainda não temos certeza que ele tem uma cópia dos dados que estão gravados. Segundo Cash, são necessários poucos dias para que o equipamento comece a corroer. O exato número de dias necessário para tornar a recuperação dos dados é desconhecido. “Eu diria que alguns poucos dias, diz Cash acrescentando que um mês fora da água é suficiente para tornar a caixa-preta inútil. “Nós não tentamos fazer experiências com isso portanto não sei se tenho uma boa resposta. Mas se você deixar a caixa secar por um curto período de tempo, vai ser bem mais difícil de recuperar os dados. “
Há um outro elemento importante para essa história. A maioria das aeronaves tem duas caixas-pretas: uma na parte da frente e outra na traseira do avião. “Se ocorre um incêndio dentro da nave ou alguma falha estrutural, o cabeamento entre o gravador do cockpit e o da cauda do avião fica comprometido e a gravação seria interropida antes que o avião parasse de voar,”explica cash. “Então eles colocam um gravador na frente para minimizar isso sabendo que se um avião se choca com uma montanha, a parte da frente provavelmente não resistirá. Então eles colocam uma na cauda para assegurar a segurança dos dados em caso de um choque assim, mas se ocorre um incêndio dentro da aeronave, a gravação da cauda provavelmente será interrompida em função da perda de energia antes daquela da parte frontal.”
Antes do Oceanic 815 cair, ele se partiu em dois pedaços. A fuselagem e o cockipit cairam na ilha e a cauda afundou no oceano, mas o avião recuperado em “Confirmed Dead” incluia o cockpit. Não queremos adiantar conclusões, mas não é muito exagero especular que se Ben realmente orquestrou aquele teatro com os destroços, ele também possa ter plantado aquela caixa-preta que vimos no cargueiro em Ji Yeon. A pergunta que fica no entanto é: Essa caixa veio do s destroços originais do vôo 815, ou ele a retirou de outro lugar? Pelo menos sabemos que é provável que exista uma segunda caixa-preta em algum lugar da ilha ou sob a posse de Widmore. Portanto enquanto os fatos que cercam a caixa-preta se adequem à realidade, a história que foi contada a Sayid e Desmond pode não ser tão sólida.
Acho que Ben, se for o responsável por orquestrar o plano funesto de plantar um acidente fake, não seria burro de plantar a caixa preta original. Ele montaria outra com dados que ele quisesse que fossem expostos.
A única maneira dessa caixa preta que está com o Widmore ser a verdadeira é ter um traidor no grupo do Ben. Levando em conta que o Widmore descobriu que o acidente era “montado”, essa hipotese é a mais provável.