Crítica | Godzilla II: Rei dos Monstros

Divulgação Warner

Como gênero já estabelecido, para funcionar com grandes públicos, o Tokusatsu depende muito de um roteiro que seja capaz de imprimir a suspensão de descrença que fará com que o espectador não só se envolva, mas se importe com o que assiste. Afinal, histórias que exploram mitos fantásticos envolvendo monstros (ou kaijus) não são exatamente exemplos que denotem íntima noção de plausibilidade ou que se sustentem pelo senso comum, não é mesmo?

Com Godzilla de 2014, a noção de uma Terra que, de repente, tem que lidar com kaijus até então adormecidos, foi estabelecida ao “brincar” com a noção de que o homem, na tentativa de dominar o poder da energia atômica, acabou despertando seres absurdamente poderosos capazes de dizimar a humanidade do mapa e que portanto deveriam ser monitorados (surgindo daí uma entidade governamental chamada Monarch). Sob outro viés, mas partindo de uma ideia semelhante, Kong: A Ilha da Caveira de 2017, contava uma história que se passava antes dos eventos de Godzilla, mas que terminava plantando o conceito de que um universo compartilhado não só exista como ainda iria se expandir.

E é com esse contexto que chegamos a Godzilla II: Rei dos Monstros. Dirigido e escrito por Michael Dougherty (X-Men 2), o filme é o terceiro passo no esforço da parceria Warner/Legendary para solidificar a franquia de monstros e mitos ao mesmo tempo em que tenta criar espetáculos visuais cada vez maiores e mais aterradores. E nesse quesito especificamente, justiça seja feita: o objetivo é claramente alcançado. Tudo (dos cenários às batalhas) surge ainda mais grandioso nesse filme. O problema – e bota problema nisso – é o roteiro atrapalhado que sustenta a trama.

Confuso no desenvolvimento de seus personagens centrais (as motivações do casal feito por Kyle Chandler e Vera Farmiga vão se alterando e se fragmentando sem muita lógica a cada nova sequência) e disposto a pintar ecologistas como terroristas alucinados que enxergam no embate entre monstros a chance de um recomeço do Planeta condenado pela ação irresponsável do homem, o texto de Dougherty, em parceria com Zack Shields, parece sempre mais interessado em criar o momento em que veremos Godzilla enfrentando o Rei Ghidorah, por exemplo, do que em pavimentar o caminho que sustente nosso interesse nesses mesmos embates.

Assim, ao dar pouca importância ao elenco humano (personagens vem e vão sem muito propósito), a destruição em larga escala provocada pelas lutas de monstros ao redor do planeta – e que obviamente provocam milhares de mortes – não é capaz de promover no espectador qualquer reação emocional mais forte já que o roteiro jamais se importa em mostrar as consequências de tudo aquilo para as pessoas que não estavam a bordo de naves da Monarch, chegando ao cúmulo de sugerir, ao final de tudo, que a mortandade e a destruição generalizada teria sido ótima para o planeta.

Há, inegavelmente, sequências visualmente impactantes no filme como, por exemplo, aquela em que pouco após despertar, o monstro Rodan destrói parte de um vilarejo no México enquanto caça e abate a esquadra aérea da Monarch como se moscas fossem, ou ainda quando a Mothra finalmente alcança sua maturação e parte para a ação num momento chave de uma luta entre Godzilla e Rei Ghidorah.

Esses (poucos) momentos, contudo, são amplamente sabotados por tantas outras sequências envolvendo piadas ruins jogadas por coadjuvantes desinteressantes ou diálogos carregados de frases de efeito e que mesmo ditas pelo bom personagem do Dr. Ishiro Serizawa de Ken Watanabe (reprisando seu papel do primeiro filme), soam sempre vazias e forçadas mesmo quando proferidas num momento de auto sacrifício. Não à toa, quando esse Godzilla II termina, tudo que levamos dele – se o tédio provocado antes deixar – acaba resumido pelas reações que a personagem de Millie Bobby Brown (a Eleven de Stranger Things) tem ao longo do filme: uma vontade de chorar e gritar… de raiva.  

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