OPINIÃO | Episódio interativo de Black Mirror é experiência esquecível

Bandersnatch, episódio especial de Black Mirror que entrou no catálogo da Netflix no dia 28 de Dezembro de 2018, tem um conceito inegavelmente curioso e que dialoga – tematicamente pelo menos – com o tipo de histórias que nos acostumamos a ver na série criada por Charlie Brooker. Pena que no caminho entre a ideia, o desenvolvimento do roteiro e a execução, o resultado se revele tão irregular.

Dando ao espectador a chance de definir os rumos da história de forma interativa, o episódio dirigido por David Slade (que havia comandado o episódio Metalhead da quarta temporada) conta a história de Stefan Butler (Fionn Whitehead de Dunkirk), jovem programador de jogos na década de 80 que acaba mergulhando numa espiral de acontecimentos bizarros depois de ganhar a chance de adaptar seu livro favorito, Bandersnatch.

Com o “poder” de decidir para onde a história caminha, o espectador é apresentado logo cedo com opções que vão de uma trivial escolha do tipo de cereal que o protagonista come no café (ou da música que ele escuta em seu walkman) até decisões mais impactantes como aceitar ou não as condições de trabalho oferecidas por um empregador ou ainda se pula ou não da sacada de um apartamento. Pois é.

As primeiras escolhas – que não demoramos a descobrir – exercem zero influência sobre o que acontece na trama (definir se ele come o cereal A ou B, por exemplo, só faz com que uma propaganda da marca escolhida seja exibida na TV em outro momento). Já outras (como a citada acima) definem sim o desenrolar da história, mas jamais alteram radicalmente (tirando uma ou outra opção) o desfecho da “brincadeira”.

O que nos leva ao real problema desse especial: o conceito interativo (e são mais de 30 podendo chegar a 40 ou mais) logo cansa porque sabota a fluidez da narrativa. Além disso, outro ponto que também fica claro quando decidimos voltar e tomar decisões opostas àquelas de antes, é que nos deparamos apenas com caminhos distintos que invariavelmente levam a destinos bem parecidos.

E assim, o que muda entre eles, é o significado do que vemos. Em alguns finais, a história de Stefan pode ter um desfecho literal onde o jogo que ele desenvolveu acaba mal ou bem avaliado, mas ele sempre se dá mal pessoalmente. Já em outro – que inclui um curioso exercício de metalinguagem envolvendo a própria Netflix no percurso – a “graça” se concentra na revelação de que não estávamos vendo a história de Stefan, mas sim a versão em desenvolvimento de uma história sobre a história dele.

E se inicialmente as mudanças de perspectiva dadas pelos múltiplos finais induzem o espectador a achar a coisa genial pelo conceito (que não é inédito, diga-se), basta deixar a experiência “descansar” na memória para perceber que apesar dos esforços e das tentativas que o roteiro faz para discutir o que é realidade e destino (tal qual Donnie Darko), Bandersnatch acaba se consolidando muito mais como um jogo esquecível disfarçado de novidade, do que um esforço efetivo capaz de provocar uma mudança de paradigma na forma com a qual histórias são contadas.

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2 COMENTÁRIOS

  1. Confesso que fiquei bastante frustrada pois estava com a espectadora muito alta diante de tantos comentários na internet dizendo que o filme interativo era genial. Achei muito fraco e mal elaborado. Para mim chegou a ser entediante.

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