Red Dead Redemption 2 e a era dos games cinematográficos

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The Last of Us, lançado em 2013 com exclusividade para o Playstation, foi sem dúvida o maior game changer na indústria do segmento no que tange à importância que passou a ser dada pelos estúdios para a narrativa de um jogo. Até então, não é exagero dizer que a grande maioria dos games simplesmente não se preocupava com esse elemento e o foco quase sempre concentrava-se “apenas” na ação em si e nos gráficos cada vez mais impressionantes.

Em The Last of Us contudo, a ação abria espaço também para uma história que ia muito além da luta pela sobrevivência num mundo com cenário apocalíptico. Havia ali, não apenas preocupação com desenvolvimento de personagens, mas também com a construção de conflitos concretos além da possibilidade de decisões tomadas durante o jogo que podiam impactar os rumos da trama… Enfim, experiências novas com as quais os gamers tinham pouco ou nenhum contato até então quando sentavam-se em seus sofás para passar algumas boas horas jogando.

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Um outro game lançado tanto para Playstation quanto para o Xbox três anos antes porém, já flertava com tudo isso – ainda que numa escala menor -, impressionando milhões de gamers mundo afora: Red Dead Redemption. Desenvolvido pela Rockstar, Red Dead apostava não apenas num game épico de faroeste que emulava a atmosfera de filmes clássicos do gênero, mas também no conceito de mundo aberto (já tão característico de sua série GTA onde o jogador define como e quando executaria certos objetivos) para criar as bases do envolvimento emocional que cada gamer poderia ter ao viver a história do ex-pistoleiro e membro de gangue, John Marston.

Chantageado por agentes do governo americano a caçar ex-colegas de gangue, Marston é um lobo solitário vagando pelos mais diversos cenários de um mundo cuja ideia de civilização, lei e ordem ainda engatinhava. Nesse contexto, jogar não significava apenas localizar e eliminar ex-comparsas, mas principalmente construir relações e adquirir habilidades que pudessem pavimentar a evolução de Marston na trama preparando-o para os confrontos que se apresentavam. E isso tudo, vale destacar, acontecia ao mesmo tempo em que íamos conhecendo detalhes da história do protagonista (e com isso desenvolvendo identificação com ele) até as circunstâncias que o levaram dali ao clímax da trama cuja resolução chocava tanto pela coragem quanto pelo efeito surpresa que provoca.

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Passados oito anos, Red Dead Redemption 2  chegou às plataformas ampliando, melhorando e refinando (muito) a escala de tudo que o original havia introduzido, com uma trama que se passa cerca de 12 anos antes do primeiro jogo. Nisso, Red Dead 2 já acerta a mão ao permitir não apenas que re-encontrássemos John Marston, mas principalmente que conhecêssemos mais a fundo a história da gangue Van der Linde pela perspectiva do um novo protagonista, Arthur Morgan, um já experiente pistoleiro que sente os efeitos do tempo e da mudança social em movimento de uma época que já não tolerava mais a existência de gangues.

Se Marston no primeiro jogo era um sujeito mais de ação focado num objetivo, Morgan, por sua vez, é um homem que notadamente transpira o conflito interno de já não enxergar mais propósito no que faz nem de aceitar tão facilmente viver como vive. Sim, é claro que ao longo do percurso é o gamer que define as ações do personagem (como matar todo e qualquer oponente mesmo que isso implique atingir inocentes, por exemplo), mas no fim de tudo, o que sempre sobra à medida em que a história  – que tem mais de 60 horas de gameplay apenas nos objetivos centrais – acontece é um Arthur Morgan mergulhado e cada vez mais amargurado pelo peso das escolhas (boas ou ruins) que vão sendo tomadas.

Sob esse aspecto (e considerando que vemos as consequências das ações da gangue acontecendo e o impacto que elas exercem no protagonista da vez e nos muitos coadjuvantes que surgem) é impossível ignorar a força que o game tem para nos remeter, não apenas visualmente, mas tematicamente à clássicos do faroeste como Sete Homens e um Conflito, Era Uma Vez no Oeste e Os Imperdoáveis, só para citar alguns, além de permitir que estabeleçamos facilmente um paralelo moderno com séries de TV como Sons of Anarchy, por exemplo, que também apostava na perspectiva de um grupo de foras da lei para contar sua história.

Assim, viver como Arthur Morgan em Red Dead 2, é ter as experiências e lembrar de anti-heróis do faroeste como Shane de Os Brutos Também Amam e reviver, ainda que em outra época e contexto, os conflitos do Jax Teller de Sons. E se no Cinema e na TV, narrativas que investem nesses tipos tem sido cada vez mais comuns e (às vezes) bem sucedidas, experimentar os sabores agri-doces de algumas conquistas e sentir o grande conflito interno que se agiganta em Arthur Morgan nesse game até seu belo desfecho é quase como estar dentro de um dos clássicos do mestre Sergio Leone. E não, isso não é exagero. Red Dead Redemption 2 é mesmo cinematográfico assim.

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