
Até o fim de 2019, o catálogo da Netflix deve possuir a impressionante marca de mais de 700 produções originais. Só ao longo de 2018, por exemplo, a empresa investiu mais de 8 bilhões de dólares em conteúdo próprio (que inclui séries, shows de stand up, documentários e, claro, filmes) como medida de segurança para enfrentar a possível diminuição de seu catálogo, por conta do fim de contratos de licenciamento.
Matéria da Business Insider aponta que hoje cerca de 20% de todo conteúdo que a Netflix oferece pertence a grandes conglomerados de mídia como NBCUniversal, WarnerMedia, Disney e Fox, ao passo que outros 72% pertencem à produtoras menores e grupos como Viacom, CBS, Sony e HBO, só pra citar alguns. De originais Netflix, portanto, restariam apenas 8%.
Não existe, até o momento, nenhuma ameaça de debandada geral para um futuro próximo, mas é inegável que o burburinho que surgiu em outubro indicando que Friends (“apenas” uma das produções mais buscadas e assistidas na plataforma) poderia sair do catálogo em 2019, acendeu um sinal de alerta que fez com que a empresa agisse rapidamente para renovar o licenciamento da série com exclusividade no streaming junto à WarnerMedia por mais um ano pela bagatela de 100 milhões de dólares.
O grande gargalo que a Netflix encara hoje, como aponta matéria da BI é o fato de que 80% de tudo que é consumido em sua plataforma diariamente não pertence à empresa. O cenário na base dos EUA (onde o serviço concentra cerca de 60% de seus assinantes) é ainda mais revelador: 42% das assinaturas dedicam cerca de 95% do tempo assistindo conteúdo que não pertence à Netflix, ao passo que apenas 18% dos assinantes assiste produções originais mais de 40% do tempo. O que nos leva à conclusão óbvia de que hoje a Netflix ainda é sim muito refém do conteúdo de terceiros.
Isso, por si só, não seria um problema se todos os grandes grupos de mídia não estivessem investindo em suas próprias plataformas de streaming. A Disney, por exemplo, vai lançar seu serviço Disney+ no final de 2019 e com a iminente aquisição da Fox pelo grupo, a chance da Netflix perder muitas produções do novo conglomerado que se formará são grandes.
E mais: considerando que desde 2011 o consumo de TV tradicional caiu 48% entre o público que tem entre 18 e 24 anos; 35% entre os que tem entre 25 e 34 e 18% entre quem tem de 35 a 49 anos, a tendência que se desenha para um futuro não muito distante é que o modelo migre quase todo para o streaming, o que, por tabela, pode significar dificuldades ainda maiores para a Netflix renovar o licenciamento de produções de terceiros.
A grande ironia disso tudo? O fato de que a empresa que ajudou a revolucionar a forma como consumimos filmes, séries etc, se vê agora ameaçada pelo crescimento do mesmo mercado que ajudou a criar.
Sou grande fã da Netflix, mas acredito a “concorrência” é sempre importante para que as empresas busquem cada vez mais formas de agradar o consumidor. Só espero que essas outras plataformas de streaming ofereçam um serviço realmente bom e confiável, sem cobrar um preço abusivo.
Compartilho da mesma opinião, Marília. Monopólio ou dominio de mercado por um player só nunca é saudável. Competição estimula ofertas melhores. Funciona pra todos os segmentos.