Abrem-se (ainda discretamente) as cortinas e (quase) começa o espetáculo…

TEXTO COM SPOILERS
Por Ricardo Henriques
Para saber até que ponto as notícias sobre a terceira temporada de Lost são positivas seria necessário ter maior acesso aos bastidores da produção. Tomemos como exemplo a decisão de dividir a temporada em duas partes, sendo a primeira composta de apenas seis episódios, todos retratando o que aconteceu com Jack, Kate e Sawyer. Se partiu de uma intenção dos criadores em desenvolver essa trama em separado, é um ótimo sinal. Mas se a ABC pressionou para que o formato adotado fosse este, na idéia de exibir mais inéditos na seqüência em 2007 e, de quebra, promover um novo seriado utilizando o horário “vencedor”, a coisa pode já não funcionar tão bem. De uma forma ou de outra, a princípio me parece uma estratégia interessante. Isso obrigará os produtores a não deixarem a peteca cair, porque uma má impressão pode complicar os índices de audiência na retomada da segunda parte. Uma ressalva é de que não se caia no erro de enfatizar excessivamente o triângulo amoroso. Material para isso eles têm, já que ainda temos muito a descobrir sobre os “Outros”. Outro problema é deixar os fãs de Locke, Hurley e companhia na saudade por tanto tempo.

Outro aspecto que pode estar gerando controvérsia nos bastidores é a possível escalação de Natasha Henstridge para um dos novos papéis fixos de Lost. A última notícia é de que tudo não passou de um grande boato engolido pela grande mídia. Mas onde há fumaça… Embora não estivesse listada como parte do elenco fixo da finada Commander in Chief, ela apareceu em praticamente todos os episódios. E como o show era uma grande aposta da emissora, Henstridge teria assinado um contrato longo, que ainda estaria em vigor, que seria o motivo de sua “transferência” para a nossa querida ilha misteriosa. A questão é… estariam os produtores de Lost realmente interessados em contar com ela? Ou estaria a ABC empurrando a moça para a série a fim de resolver dois problemas de uma tacada só? Se a intenção é que ela sirva de enfeite, ótimo. Mas se for pra ter um papel crucial, torço para que fique só na boataria mesmo. Não que ela seja uma má atriz, mas está longe de dar mais profundidade a um personagem. Apareceu como provável futura musa ao fazer o primeiro filme da franquia A Experiência, mas nunca estourou. Em Commander in Chief tinha um papel secundário, onde servia de apoio ao experiente Donald Sutherland, sem chamar muita atenção. Ao menos artisticamente, claro. E num elenco feminino onde ninguém consegue de fato decolar (embora as que sobraram não cheguem a comprometer), as escolhas têm de ser mais cuidadosas. E nada “políticas”.

Pra nós brasileiros, obviamente a escalação de Rodrigo Santoro é a grande atração. Um bom ator, que podia muito bem ter se conformado com o papel de galã de novela, mas sempre se arriscou em papéis complicados. Não é a primeira vez que um seriado de JJ vai buscar alguém despontando na América Latina. Em Alias, o cobiçado posto de irmã de Sydney Bristow foi cair no colo de Mía Maestro, atriz argentina da mesma geração de Santoro. Maldades à parte (quantas vezes você já não ouviu alguém zombar algo do tipo “será que vão deixar ele falar dessa vez?”, se é que você mesmo não empregou tal crueldade), se o personagem do nosso conterrâneo for de destaque, será mais um no front de bons atores, já que o elenco masculino, ao contrário do feminino, está muito bem representado. Santoro é melhor ator do que Matthew Fox, por exemplo, mesmo que este venha fazendo um ótimo trabalho no (complicado) papel de Jack. Sem contar que já temos os consagrados (ao menos pros fãs de Lost) Terry O’Quinn e Adewale Akinnuoye-Agbaje (alguém tem dúvida de que ele é abordado simplesmente por Eko nas ruas?). O problema aqui não é a boataria, mas sim o contrato de Santoro com a Globo. Chegarão a um acordo? Ele terá de fazer participações em “Carga Pesada”, “A Diarista” e “Estrelas com Angélica” como forma de compensação? Como interessa a ambas as partes, não acho que será um obstáculo. E de repente se Santoro for indicado ao Emmy ou ao Golden Globe, a Globo compra e transmite os eventos.

Confirmada mesmo está Elizabeth Mitchell, que, assim como Henstridge, é uma atriz que ficou só na promessa. Tanto que seu papel mais lembrado ainda é o de amante de Angelina Jolie em Gia, um filme de TV. Enquanto a moça dos lábios carnudos despontou para a fama e o trabalho assistencial, Mitchell passou por ER, sem se firmar, e fez um sem número de participações em séries como CSI, House e Everwood. Reza a lenda que a função da moça na trama será incrementar o polígono amoroso de Jack, Kate e Sawyer. Cargo que caberia a Michelle Rodriguez, se esta não tivesse sido defenestrada rapidamente do programa. Por uma boa causa, diga-se de passagem, pois foi importante para o desenvolvimento da segunda temporada, estivesse ela ou não predestinada a isso quando contratada. Mais esse é um assunto que necessitaria de informações de bastidores para ser melhor compreendido. Pano rápido.

Além disso, estão confirmados na terceira temporada os dois destaques da última: Henry Ian Cusick (vulgo Desmond) e Michael Emerson (vulgo, mas vulgo mesmo, Henry Gale). Com o primeiro, saberemos mais sobre a ardilosa ou messiânica (escolha o adjetivo que melhor lhe convier) Penelope, o que, espero, trará parte da trama para fora dos domínios da ilha. E nós brasileiros esperamos que melhorem o sotaque dos “astronautas” de ocasião. Com alguma bondade até aceitamos a desculpa de que eles tinham extraído dentes um do outro naquela manhã. Já com o segundo, teremos a trama dos “Outros”, que, ao que tudo indica é o grande filão da terceira temporada. É até bem possível que a estrutura e a História da ilha seja mais exploradas durante este ano da série, deixando que o mundo exterior, os tais brasileiros e a Penelope ainda fiquem todos nebulosos, guardados como tema para a quarta. Mas agora eu já estou chutando demais. Pano rápido mais uma vez.

O que é garantido é que, na palavra dos criadores da série, a próxima temporada será a do “amor”. Primavera, clima de paixão, javalis se acasalando em frente às câmeras (ou ursos polares, dizem que estes vão voltar a aparecer também), telespectadores pedindo uma namorada pro Vincent, e por aí vai. Tudo muito natural, claro. Os sobreviventes já estão há um bom tempo na ilha e é perfeitamente aceitável (e até aconselhável, do ponto de vista dramático da coisa) que surjam desejos ardentes, paixões sufocantes, amores ternos e ressentimentos violentos. O problema é exagerar na dose e dar mais importância à “novela” do que aos mistérios da série. O que seria uma (péssima) desculpa para dar aquela enrolada (nada) discreta que vimos em alguns (muitos) episódios da temporada passada. Outro fator que me preocupa é que no último episódio o Charlie e a Claire se beijaram na cena com menos nexo de todo o programa. Ficou faltando uma explicação plausível pra Claire ter, depois de tanto doce e tanta briga, ter caído nos braços do mancebo assim tão facilmente. Vai ver o eletromagnetismo mexeu com a cabeça dela, vai saber. Ao menos o gracioso sotaque está intacto.

Ah, outra coisa legal: Terry O’Quinn pediu pra colocarem uma faca na mão do Locke e os criadores aceitaram prontamente. Depois de uma temporada de chatice e obsessão, o personagem deve retomar seu caminho natural de homem da fé, falando aquelas coisas que arrepiam a espinha do Jack. Esperemos que no mesmo embalo dêem mais espaço ao Sayid, pois Naveen Andrews é ótimo ator e merece ser melhor aproveitado. Outro que andou sumido foi o Lostzilla. As pessoas até pararam de especular possibilidades ridículas a respeito dele, sinal claro de ostracismo. Mas nesse mar de boas notícias, a melhor de todas é que JJ Abrams está de volta, mesmo que, aparentemente, por pouco tempo. Deve dirigir o primeiro episódio de cada uma das partes da temporada. Pra alguns ele é apenas mais uma peça da engrenagem, mas pra mim ele é fundamental. Depois que ele se afastou de Alias, a série nunca foi a mesma. Fato é que existem condições e material para transformar a terceira temporada de Lost na melhor de todas (embora seja difícil bater a primeira). Resta saber se aproveitarão direitinho ou se darão novas patinadas.

Lost está voltando. Mais armado. Mais perigoso. Com sede de vingança por ter sido esnobado pelo Emmy. E tomara que com menos clichês que este curto parágrafo que aqui se encerra.

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*Ricardo Henriques é jornalista e detesta spoilers. Escreveu esse texto em nome da amizade.
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8 COMENTÁRIOS

  1. Concordo em gênero, número e grau.
    Espero mesmo que venha uma terceira temporada sem temperos de soap opera e, como vc disse, valorizando personagens que realmente seguram a peteca, Locke, Eko, Sayid e quem sabe, ve se essas meninas conseguem ter algum destaque, como são sofríveis.

  2. é tbm concordo q é preciso explorar mais e não deixar SÓ o romance toomar conta, pois esse naum eh o objetivo principal da série, não que não seja importante!!

    “lost está voltando. mais armado.mais perigoso”
    mto boa essa frase… espero que a terceira temporada possa ser igual ou melhor que a primeira!

    pois se tem uma série q merece ser SEMPRE reconhecida, é LOST!

  3. Gostaria de parabenizar o autor deste texto soberbo recheado de comentários mais que pertinentes. E se foi escrito em nome da amizade, rogo que seus amigos conservem esse bem precioso. Bjs.

  4. Ótimo texto..! Vc escreve muito bem Ricardo… parabéns!
    Concordo com quase tds as “suas viagens”.
    E vc é muito severo com as atrizes de LOST… se os personagens delas ñ deslancham, os roteiristas tem grande parte da culpa tb, vc ñ acha?
    Apesar de achar a Sun uma das melhores personagens da série (apesar de ñ aparecer tanto).

  5. Bem, ne vc acha a cena do beijo de Claire e Charlie, eu ñ acho. Ela soube que Charlie tinha jogado a heroína fora, e se ela realmente gosta dele, ao saber que desistiu das drogas e ainda por cima estava ferido, ela seguiu seus sentimentos por ele, ué!
    Nãna ;-D

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